Barriga inchada, dores e ruídos abdominais, gases, cólica e períodos alternados de constipação e diarreia. Se você costuma sentir alguns desses sintomas, é séria candidata a sofrer da Síndrome do Intestino Irritável (SII), que afeta de 10 a 15% da população dos países desenvolvidos e cresce a cada dia no Brasil.
A boa notícia? Existe tratamento para a doença – e ele está ligado diretamente ao que se coloca no prato. Trata-se da Low FODMAPs, dieta que traz a sigla das letras iniciais dos carboidratos altamente fermentativos: oligossacarídeos (trigo, centeio, diversas frutas, legumes e leguminosas), dissacarídeos (lactose do leite e derivados), monossacarídeos (frutose das frutas e mel) e polióis (presente em algumas frutas e adoçantes). “De difícil digestão e rápida fermentação, eles formam gases que distendem o abdome. Além disso, puxam água para o intestino, que fica ainda mais inchado”, explica Eline de Almeida Soriano, diretora da Associação Brasileira de Nutrologia (Abran).+
Nem todo mundo é sensível aos FODMAPs (veja a lista dos alimentos nesta página), mas boa parte da população sim, principalmente os portadores da SII. “Essa abordagem alimentar é hoje a primeira opção, melhorando os sintomas em pelo menos 74% deles”, diz a porta-voz da Abran. A SII atinge principalmente as mulheres (70% dos pacientes contra 30% dos homens). “Ela está relacionada a fatores da vida moderna, como excesso de alimentos processados, estresse e falta de sono”, esclarece Jaime Zaladek Gil, gastroenterologista do Hospital Israelita Brasileira Albert Einstein, de São Paulo.
Quando a pessoa tem os sintomas descritos anteriormente, mas não apresenta quadro inflamatório nem sangramento – que poderiam indicar colite e doença celíaca, entre outros problemas do aparelho digestivo –, o mais provável é que ela tenha a síndrome. “O diagnóstico da SII é feito por exclusão. A doença não é grave, mas é crônica e prejudica a qualidade de vida do paciente”, diz o gastroenterologista.
Com o resultado em mãos, o paciente é encaminhado para um acompanhamento nutricional. “Cerca de 90% das pessoas que chegam ao meu consultório apresentam sinais de desconforto associados à SII”, relata Karina Al Assal, nutricionista clínica de São Paulo. Como a dieta Low FODMAPs é muito restritiva, exige acompanhamento profissional. “É preciso compensar, entre outras coisas, a ingestão de fibras, já que boa parte dos alimentos não indicados são ricos nesse nutriente fundamental para a nossa saúde”, reforça a nutricionista. Geralmente, são retirados, por até oito semanas, os itens com maior potencial fermentativo – leguminosas, cebola, alho, leites e derivados, os ricos em glúten e maçã, mas não todos de uma vez.
Outra questão importante ligada ao quadro é a disbiose, que é o desequilíbrio das bactérias do intestino que participam do processo digestivo. “Durante a dieta, são indicados os probióticos, bactérias do bem que ajudam a repovoar a flora intestinal que na SII costuma estar alterada, melhorando a capacidade digestiva”, explica Luís Carlos Silveira, médico nutrólogo e diretor do Kurotel – Centro Médico de Longevidade & Spa de Gramado. O tratamento da SII envolve também medicamentos e/ou terapia para lidar com questões como ansiedade e estresse. “Após o período de dessensibilização, os alimentos são reintroduzidos paulatinamente, observando-se as manifestações clínicas. A indicação vale para os grãos, legumes, verduras e frutas, mas não necessariamente para os polióis, adoçantes sintéticos usados em produtos que parecem inocentes como os docinhos fit e afins.
Em tempo: outros ingredientes em alta na turma healthy, a biomassa de banana verde e o whey protein, também podem ser de difícil digestão. Por isso, mesmo quem não sofre de SII pode se beneficiar ao saber quais são os alimentos com maior potencial de fermentação. Assim, as recomendações dadas aos pacientes de SII valem para todos: comer devagar e mastigar bem, já que a digestão dos carboidratos começa na boca; colocar o feijão de molho por 24 horas e trocar a água três vezes para reduzir a rafinose, responsável pela fermentação; e fazer atividade física para melhorar a motilidade intestinal. “O intestino, também chamado de segundo cérebro porque abriga o segundo maior sistema nervoso do organismo, não deve se transformar numa válvula de escape”, alerta Eline. Assim, a ordem é tentar controlar o estresse, um dos grandes vilões dos nossos tempos.
FUJA DELES
Alto teor de FODMAPs
Vegetais: Cebola, alho, aspargo, alcachofra, ervilha, beterraba, couve, aipo, milho, couve-flor
Frutas: Maçã, pera, manga, melancia, pêssego, ameixa, abacate
Leite e derivados: Leite de vaca, iogurte, queijo fresco, ricota, creme de leite, sorvete
Proteínas: Feijão, grão-de-bico, soja
Pães e cereais: Trigo ou centeio e massas
Industrializados: com xarope de milho, glicose, sacarose e adoçantes como xilitol, manitol e sorbitol
Oleoginosas: Castanha-de-caju, pistache
SINAL VERDE
Baixo teor de FODMAPs
Vegetais: Alface, abobrinha, berinjela, espinafre, cenoura, pepino, ervas aromáticas
Frutas: Tomate, banana, laranja, tangerina, uva, melão, kiwi, morango, framboesa, maracujá, abacaxi
Leite e derivados: Leite de vaca, iogurte e queijo, todos sem lactose, queijos duros e leite de amêndoas
Proteínas: Carne, peixe, frango, tofu
Pães e cereais: Massas sem glúten, aveia, arroz, quinoa
Industrializados: Biscoito sem glúten, bolacha de arroz
Oleoginosas: Amêndoas e sementes de abóbora