Beleza

Reversão de procedimentos estéticos: por que busca pelo ‘padrão natural’ virou tendência?

Cada vez mais celebridades têm optado por retirar seus procedimentos estéticos: Erika Schneider e Jaque Khury, dentre outras, fizeram a reversão de preenchimento labial. A Marie Claire, elas comentam a decisão e contam motivo de quererem estarem mais naturais. Além disso, especialistas também falam sobre a tendência que tem crescido nos últimos anos

Nos últimos anos, cada vez mais celebridades têm optado por retirar seus procedimentos estéticos: é o caso de Kylie Jenner, Gkay, Flávia Pavanelli, Carol Narizinho e Gabi Martins, que chegou a fazer harmonização facial e depois confessou ter exagerado. “Vou ser sincera, eu sou muito a favor da gente se cuidar e estar bem com a gente mesmo. Retirei tudo e não faço mais tem dois anos, apenas botox”, disse a ex-BBB no Instagram.

Seu relato é parecido com o da influenciadora Erika Schneider. A Marie Claire, ela contou ter tirado a harmonização no rosto e o preenchimento na boca por buscar mais naturalidade atualmente. “Hoje em dia me preocupo muito mais pela auto prevenção e cuidado do que mexer alguma coisa no meu rosto”, afirmou.

“A gente acaba entrando numa pressão da estética de querer ficar sempre melhor e acaba piorando em vez de melhorar. Antes, eu achava que tinha que sempre fazer alguma coisa para estar mais bonita, mas agora consigo ver que quanto mais natural, mais bonito é”.

Jaque Khury também é uma das pessoas que passou por essa mudança recentemente. A participante do BBB8 declarou ter começado a fazer procedimentos estéticos por influência das redes sociais: “Via todas as mulheres que eu achava bonita no Instagram com os lábios muitos carnudos e queria também’.

Até que um dia, Jaqueline passou a perceber que sua boca estava ficando grande demais. “Recebia comentários, mas achava que era inveja. Só que um dia eu realmente fui ouvir, coloquei hialuronidase para diminuir [a boca] e amei”, diz ela.

Além do preenchimento labial, ela também retirou o mandibular e quer fazer o mesmo com a sua prótese mamária. Todo esse movimento se intensificou há um ano, depois que a influenciadora consagrou a Ayahuasca: “A gente consegue ter um amor próprio muito maior e se vê mais bonita da forma mais natural possível. Então senti essa necessidade de voltar aos traços que eu tinha em tudo”.

A tendência da remoção de procedimentos estéticos
De acordo com dados do Google Trends fornecidos a Universa, as buscas na internet por termos como “tirar”, “desfazer” e “reverter” harmonização facial cresceram mais de 90% no Brasil nos últimos dois anos. Além disso, observou-se um crescimento de 990% nas consultas online relacionadas a “como reverter bichectomias” e de 260% em pesquisas sobre “como remover preenchimentos labiais”.

“O preenchimento mais utilizado, o ácido hialurônico, é absorvível. Esse é o tratamento de mais fácil resolução, feito com medicação oral e, às vezes, infiltração com corticoide e hialuronidase”, explica Eliza Minami, cirurgiã plástica e Regente do Capítulo de Cosmiatria da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica. Nesse caso, o produto é dissolvido e desaparece completamente.

Para a médica dermatologista e membro da Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD), Melina Kichler, a disseminação das redes sociais alimentou a onda de harmonização facial e do exagero dos procedimentos estéticos, o que acabou influenciando pessoas a buscarem determinados tipos de modificações que “muitas vezes não eram indicados para o seu tipo de rosto”.

No ano de 2022, um estudo divulgado pelos dermatologistas da SBD revelou que cerca de metade das complicações associadas a procedimentos estéticos, ocorridas no ano anterior, foram causadas por indivíduos que não possuíam a devida habilitação profissional.

Kichler chama atenção para esses procedimentos desnecessários, sem indicação de profissionais: “Junto desse processo, vimos crescer muito no mundo da dermatologia e da medicina estética a dismorfismo corporal, que é uma doença em que o paciente não consegue enxergar no espelho a forma como ele realmente está”, diz a Marie Claire.

“As mulheres acabam sendo o maior público para reversão de procedimentos estéticos, porque são elas que mais sofrem a pressão externa e da mídia das redes sociais de estarem sempre dentro de um padrão. Mudam-se os padrões de beleza, mudam-se as procuras: o que antes era um padrão de dois, três anos atrás, este ano já mudou”
Ela afirma acreditar que isso, inclusive, acontece de forma proposital para alguns setores da indústria, “para que o indivíduo fique o tempo todo buscando padrões muitas vezes inatingíveis”. “Mas como a mulher acaba sofrendo mais esse processo de pressão, elas são as que mais buscam reversão”.

A médica dermatologista Daniella Cury, especialista pela Sociedade Brasileira de Dermatologia, também afirma que “preenchimentos existem e são usados por dermatologistas e cirurgiões plásticos há muitos anos”, porém com ressalvas.

“Sempre foi usado 1, 2 até 3 ml em uma sessão. Hoje os profissionais injetores usam 15, 20 até 40 ml (uma seringa tem um ml, por exemplo) por procedimento. Na hora pode até ‘levantar’ a face, mas o preenchimento em grande quantidade interfere na mímica facial, prende a musculatura e o paciente acaba não se reconhecendo mais quando se olha no espelho”.

A reversão virou uma nova tendência?
Até mesmo Kylie Jenner, que iniciou os preenchimentos labiais aos 15 anos — e mantinha a boca preenchida como marca registrada — optou pela remoção em 2018, desencadeando uma onda de reversão do procedimento no mundo todo. O que leva a discussão: o processo de reversão de procedimentos estéticos, adotado por celebridades ao longo dos últimos anos, virou a nova tendência?

A psicóloga comportamental, Juliana Pato, analisa que “os padrões de beleza são dinâmicos e a indústria da beleza muitas vezes capitaliza sobre as inseguranças dos consumidores. O ciclo incessante de busca por ideais estéticos leva as pessoas a adotarem cirurgias, procedimentos reversíveis, novos regimes de cuidados com a pele e técnicas para retardar os sinais de envelhecimento”.

“A tendência atual parece valorizar uma beleza mais natural. Apesar de parecer que a reversão desses procedimentos reflete um arrependimento generalizado, na realidade, sugere uma mudança nos padrões estéticos. Os dados indicam que a procura por procedimentos estéticos permanece alta, mas as preferências evoluíram”.

Para a especialista, consumidores que antes buscavam seguir os padrões antigos, agora se esforçam para se alinhar com a estética atual: “A subjetividade individual dos consumidores é crucial, e compreender suas motivações é desafiador”.

“A decisão de figuras influentes, como Kylie Jenner, de reverter procedimentos estéticos, pode influenciar significativamente a percepção pública. Embora não tenhamos acesso direto à subjetividade de cada consumidor, o simples ato de uma celebridade reverter um procedimento pode ser interpretado como o surgimento de um novo padrão de beleza”.

Como reverter harmonização facial?
A principal dica das especialistas é procurar um profissional médico de confiança que tenha uma boa formação, empatia e que trabalhe com seriedade. “Infelizmente há muitos profissionais que julgam muito e resolvem pouco”, declara Cury.

Kichler também diz: “Muitas vezes acham que a reversão desses procedimentos é simples e não é. Existe todo um planejamento de como será feita e normalmente precisa-se de várias sessões para reverter esses procedimentos de uma forma mais segura e menos impactante.”

Além disso, o ideal é ter o acompanhamento psicológico antes mesmo de realizar alguma intervenção estética. “Esse suporte não apenas abrange a avaliação psicológica, mas também se estende à psicoterapia, onde são exploradas questões de autoconhecimento. O objetivo é ajudar os pacientes a compreenderem suas motivações para a decisão, além de trabalhar na gestão de expectativas em relação ao procedimento”, esclarece Pato.

“Quando se trata de procedimentos estéticos que não exigem intervenção médica direta, a recomendação de acompanhamento psicológico pode ser menos comum. Muitas vezes, procedimentos considerados ‘reversíveis’ podem parecer menos impactantes na saúde mental, e profissionais podem não enfatizar tanto a importância do suporte psicológico. Contudo, entender os motivos por trás da escolha é fundamental para evitar decisões impulsivas e promover uma abordagem mais consciente em relação à saúde e bem-estar geral.”

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