Moda

Veterana e insider: conheça a história da estilista Sonia Pinto

Há 45 anos na moda brasileira, a estilista mineira Sonia Pinto é o nome por trás do guarda-roupa de mulheres como Marina Abramovic, Alaíde Costa e Isabel Teixeira

Quando Marina Abramović foi fotografada em Pernambuco para esta Vogue Brasil no começo deste ano, em função de sua primeira instalação pública na América do Sul, pediu para usar uma estilista nacional durante a sessão: Sonia Pinto. Com 45 anos de carreira, a mineira é um nome prestigiado dentro da indústria e pouco conhecido do grande público. Este “segredo” bem guardado da moda nacional veste mulheres como a cantora Alaíde Costa, as atrizes Isabel Teixeira e Vera Holtz, a joalheira Mayumi Okuyama, a empresária de moda Traudi Guida, as artistas plásticas Sônia Gomes e Pinky Wainer e a cantora Zélia Duncan. “Quando estive no espaço da Sonia, me senti em casa. Suas roupas expressam minhas necessidades de estar confortável e elegante, ao mesmo tempo, semdificuldade. É sobre simplicidade, a escolha certa dos tecidos, design e modernidade”, me escreveu Abramović por e-mail sobre a estilista.

Quando o Espaço Sonia Pinto SP abriu as portas em Higienópolis, em 2009, a designer, atualmente com 75 anos, reuniu 20 amigas-clientes, como Adriana Varejão, Tomie Ohtake e Virgínia Lee, para expressar em fotografias dois dos principais fios condutores de suas criações: ter personalidade e, consequentemente, não seguir tendências. Por isso, a mostra recebeu o nome de Beleza Atemporal. Com tantos anos no mercado – e depois de quebrar no início dos anos 1990 –, Sonia entende que o que mantém sua clientela fiel é a observação. “Sou uma estilista autodidata, o meu estudo foi vivenciado. Todo o dinheiro que ganhava usava para viajar e ver como as pessoas se vestiam. Já estive no Japão 22 vezes, por exemplo, e o que mais me chamou a atenção é que as peças mais interessantes que vi continuaram aparecendo ao longo das 22 vezes que voltei para lá, com stylings diferentes, claro, mas as mesmas peças”, conta.

Caminhando entre as araras de roupas e os objetos que trouxe na própria mala durante suas andanças – e que dão à sua loja ares de galeria de arte -, a designer não esconde o fascínio por tecidos. Na mesma intensidade que fala sobre a textura de uma gabardine, também me convida a tocar nas roupas.Éque o seu processo de criação começa justamente por ali, no toque. “Conheço o tecido pelo cheiro. O meu primeiro emprego, aos 12 anos, foi numa loja de tecidos, enrolando e arrumando todos eles. Sempre que os toco, eles conversam comigo dizendo o que querem que eu faça com eles. Tudo que fica parado eu reaproveito, tinjo, recrio”, diz. “Olha a beleza disso”, fala apontando para uma peça de seda com algodão. “As pessoas me perguntam por que eu não faço roupas bordadas. A resposta é simples: um tecido especial desse não precisa de nada.”

O encontro da estilista comos tecidos também se reflete na confiança de quem usa suas coleções. “Vestir uma peça de Sonia Pinto é mais do que simplesmente adornar o corpo, é uma declaração de autoexpressão e empoderamento, revelando a beleza e a força interior de quem a usa. Cada roupa é cuidadosamente concebida para transmitir uma mensagem de contemporaneidade e individualidade”, diz a cantora e compositora Alaíde Costa. Para Sonia, é um presente poder vesti-la. “Meu pai cantava suas músicas em casa e, além disso, ela representa a minha ancestralidade e dialoga diretamente como meu trabalho.Aminha avó fazia brolha, a minha mãe fazia pano de prato com bainha e eu aprendi tudo isso. A capacidade de criar vem dos meus ancestrais”, diz.

A arte é mais uma conexão inegável de seu trabalho, tanto em relação à estrutura descontruída inspirada no japonismo como parte de seus clientes que circulam pelo cenário artístico. É o caso da artista performática sérvia Abramović. “Há oito anos, ela estava com uma exposição no Sesc e veio conhecer a loja. Foi um encontro de almas, a gente se entendia pelo olhar. Montei um guarda-roupa para que ela tivesse conforto na temporada e ela virou mais uma das minhas clientes fiéis”, diz.

Sonia Pinto acredita que o seu legado é trabalhar com amor. Ela divide a sua rotina entre Belo Horizonte, onde abriu o primeiro espaço, e São Paulo, onde se hospeda duas vezes ao mês para visitar a loja e comprar aviamentos. Para focar nas criações, a designer conta com a ajuda de seus quatro filhos: a modelista Branca, o administrador Norton Jr., o fotógrafo Thiago e o comunicador visual Fabiano, além de mais 18 funcionários. “Eu me vejo fazendo isso até o fim porque me rejuvenesce. Quem está no mercado hoje ou é muito rico ou um guerreiro como eu”, finaliza.

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