O que você procura numa clínica odontológica? Atendimento humanizado? Profissionais superqualificados? Tratamento eficiente? Tudo isso junto? Na hora da escolha, vários itens devem ser levados em conta para estabelecer uma relação de confiança entre você e o dentista. A observação criteriosa do profissional que vai cuidar da sua saúde bucal é tão importante quanto a avaliação do médico que vai tratar outros problemas de saúde.
O primeiro alerta que quero fazer é sobre um hábito que virou verdadeira febre entre pacientes: a consulta ao Dr. Google. Mais de 70% dos brasileiros não têm plano de saúde e a maioria não tem acesso a dentistas. Dentro desse universo, 26% procuram informações no Google, muitas vezes em sites pouco idôneos e com informações equivocadas. Apesar de a internet ajudar na democratização das informações, também pode gerar interpretações inadequadas e muita ansiedade no paciente. Nada substitui a consulta a um médico ou a um dentista qualificado. E, por isso, mais do que nunca, defendo a inclusão de tratamentos odontológicos na pauta das políticas de saúde pública, permitindo que todos tenham o direito a um sorriso bonito e saudável.
Para quem tem condições de pagar um bom tratamento odontológico, é fundamental lembrar que um serviço de saúde não é igual a um produto de consumo. A indicação de um dentista feita por influencers ou blogueiros, que também falam das tendências de moda, não é garantia de qualidade. Ao contrário: muitos deles divulgam determinado profissional de saúde em troca de permutas, descontos e até cachês. Um exemplo disso é o chamado Dr. Bumbum, que fazia muito sucesso no Instagram e prejudicou a saúde de várias mulheres de forma inescrupulosa. Redes sociais, definitivamente, não dão atestado de boas práticas. O ideal é receber referências positivas de alguém da sua confiança e também pesquisar a experiência, a conduta e a formação do dentista escolhido.
Quando o assunto é o marketing dos serviços de saúde, é importante também ficar atenta. O Conselho Federal de Odontologia liberou recentemente o uso de imagens de antes e depois de tratamentos nas clínicas odontológicas (resolução CFO-196). Mas quem garante que aquele tratamento foi realmente executado por aquele dentista? Quem garante que aquele tipo de serviço pode ser útil para você? Quem garante que os resultados serão os mesmos no seu caso?
Observe ainda os profissionais que fazem tudo para vender uma falsa imagem de sofisticação, atraindo pacientes com a presença de DJs, alfaiates e costureiros e a oferta de bebidas alcoólicas. Isso em nada contribui para o tratamento do paciente. Ao contrário, transforma o espaço destinado aos cuidados com saúde bucal em uma espécie de balada fora de contexto. E pior: coloca em risco a higiene do ambiente e o bem-estar do paciente e da equipe. Uma coisa é ser estrategista na gestão dos negócios em saúde. A outra, completamente diferente, é a mercantilização nos tratamentos. Embora aconteça uma relação de compra e venda de serviços em uma clínica, saúde não é comércio.
Em 2005, quando lancei o livro Boca!, pela Editora Abril, minha grande preocupação era com questões técnicas e a estrutura do consultório. Hoje, como dentista e também paciente, eu acredito no profissional de saúde e ser humano completo. Acredito no profissional que se atualiza, frequenta congressos, inclui novas tecnologias em seu consultório, busca o aprimoramento técnico e consegue gerir bem sua clínica. Mas, acima de tudo, acredito no profissional de saúde que tem uma postura humanista, que utiliza a odontologia como ferramenta de inclusão de pessoas carentes, que é um ativista da profissão, como os Dentistas do Bem, da nossa rede de voluntariado. Acredito no dentista que não dissemina o discurso de ódio nas redes sociais contra as minorias. Acredito no dentista que se posiciona com firmeza, empatia e generosidade. Acredito nos dentistas que desejam não apenas ser os melhores do mundo, mas os melhores para o mundo.