Estima-se que, no Brasil, 15% da população sofra com crises de enxaqueca e que cerca de 10% das pessoas irão relatar pelo menos um episódio da dor durante a vida. Nas mulheres, a enxaqueca pode ser ainda pior. De acordo com os estudos do Centro de Nutrição Clínica, da Universidade de Newcasttle, no Reino Unido, as crises são três vezes mais frequentes nas mulheres do que nos homens.
Segundo os pesquisadores, a causa dessa maior propensão são os hormônios femininos e os seus efeitos sobre o cérebro. Segundo a neurologista Flávia Abido, da clínica Derma Gávea no Rio de Janeiro, a enxaqueca associada ao estrogênio é muito comum e ocorre devido ao declínio de estrogênio endógeno no início do ciclo menstrual – a chamada “enxaqueca menstrual”– podendo também acontecer no pós parto ou devido à parada proposital ou acidental de métodos contraceptivos.
A especialista afirma também que algumas mulheres podem apresentar crises associadas ao uso de estrogênio exógeno, presente em contraceptivos. “Por isso há a necessidade de individualizar o tratamento dessas pacientes, visto que algumas podem se beneficiar do uso de contraceptivos no tratamento da enxaqueca e outras têm as crises desencadeadas pelo seu uso.”
Em cada 10 mulheres que participaram dos estudos do Centro de Nutrição Clínica, uma experimentou a “enxaqueca menstrual”. Segundo os especialistas, durante a menopausa, crises também podem acontecer.
Aumento do risco cardiovascular
Em outro estudo recente, uma avaliação feita com 115 mil mulheres entre 25 e 42 anos, os pesquisadores avaliaram a incidência de complicações cardiovasculares como infarto, derrame e morte súbita entre as pacientes com e sem enxaqueca. A conclusão é que, de fato, a doença aumenta as chances de pacientes sofrerem algum problema cardiovascular.
“Apesar de ser um aumento significativo, a incidência de infarto nessas pacientes é ainda muito baixa”, explica o especialista em medicina da dor André Mansano. “Os mecanismos que levam a esse aumento do risco de infarto ainda não são completamente esclarecidos e ainda não se sabe se o tratamento da enxaqueca diminui os riscos a níveis normais”, conclui.
Já a neurologista Flavia alerta que, em determinados tipos de enxaqueca, o uso de estrogênio em pílula anticoncepcionais é contraindicado, pelo aumento do risco de Acidente Vascular Cerebral (AVC).
Características da crise de enxaqueca:
São muitos os sintomas proporcionados por uma crise desse tipo. Eles podem variar de pessoa para pessoa. Entretanto, normalmente são os seguintes:
- Dor, predominantemente, de um lado da cabeça;
- Dor “pulsátil”;
- Piora da dor com as atividades cotidianas;
- Fotofobia (sensibilidade à luz);
- Fonofobia (sensibilidade ao som);
- Náuseas e/ou vômitos;
- Aura (em alguns pacientes podem haver alterações visuais, como o surgimento de pontos brilhantes ou escuros na visão, de acordo com o especialista em medicina da dor André Mansano).
Fatores associados à enxaqueca:
- Ansiedade e estresse;
- Jejum prolongado;
- Sono insuficiente;
- Alterações hormonais;
- Irritação;
- Excesso de cafeína;
- Sedentarismo;
- Uso excessivo de analgésicos;
- Genética.
O que fazer para amenizar uma crise?
O endocrinologista Thiago Giaconi aconselha o uso de compressas geladas na cabeça, para aliviar a dor por contrair os vasos sanguíneos e parar a atividade que estiver executando quando perceber o início de uma crise, se isolando de ruídos, locais agitados ou com iluminação intensa e, se possível, utilizar técnicas de relaxamento. Além disso, preparar chás de camomila e hortelã podem ser uma boa saída para a dor.
Thiago também reitera a mudança de hábitos. “Evite fumar e permanecer próximo de quem fuma, beba bastante água, durma mais cedo, em local escuro e silencioso”, recomenda.
Flávia Abido completa afirmando que o consumo de nitratos, presentes em alimentos embutidos e alguns queijos, aspartame e vinho são fatores que precipitam as crises de enxaqueca.
“Por isso, na prática clínica, solicitamos ao paciente que faça um “diário da dor”, para que se consiga evidenciar os fatores individuais que desencadeiem ou piorem a sua crise e assim, solicitar que o paciente os evite”, explica a especialista.
O especialista afirma que o tratamento com medicamento da crise de enxaqueca deve ser iniciado precocemente e alerta sobre a importância de se evitar os analgésicos comuns, pois estes podem acarretar uma condição conhecida como “dor de cabeça por abuso de analgésicos”, fazendo com que o tratamento torne-se mais difícil. “O profilático, ou seja, medicações específicas para prevenção da dor é indicado no caso de crises muito freqüentes ou incapacitantes”, finaliza.