Ananda Salavar divide a sua vida em duas partes: antes e depois do acidente. A jovem, hoje com 19 anos, estava na casa de sua mãe, aos 8, quando um incêndio começou. “Foi assim que eu me queimei. A minha mãe morreu no acidente. A história que vem depois disso é bem extensa. Fiquei muito tempo internada e passei por muitas coisas nesse período, enquanto ainda estava no hospital”, conta, em conversa com Marie Claire.

“A minha vida mudou completamente depois do acidente. A perda da minha mãe foi um longo processo. A minha vida tem uma linha de antes e depois: como ela era antes do acidente, e como ficou depois”, diz. Quando recebeu alta, Ananda começcou a usar máscara.

“Durante muito tempo, fiquei com aquelas máscaras de queimadura, e eu só saía de casa assim. Não sei se por vergonha ou se, de fato, eu precisava. Mas um dia, de repente, decidi que não usaria mais. Nessa fase, eu já tinha por volta de 10 anos, e foi aí que redescobri a maquiagem na minha vida”, explica. Antes do acidente, Ananda era uma menina vaidosa. Desde os 4 anos, se lembra de ser fã de batom vermelho.

“Amo me maquiar desde que me conheço por gente. Aos 4, já ia com batom para a escola. Na época, existia aqueles batons infantis das princesas, mas que eram bem pigmentados e vibrantes. E eu usava como batom, como sombra. Adorava me arrumar de um jeito diferenciado, com arcos enormes. Era conhecida na escola como a menina do arco”, brinca.

Essa característica, no entanto, não mudou. Ananda carrega cicatrizes no corpo e também no rosto, e revela que se maquiava não apenas para se sentir bonita, mas para se expressar. “Aos 10, eu assistia diversos tutoriais no Youtube.

“Para mim, a maquiagem foi muito importante não só pela aceitação, mas como forma de expressão. Isso já foi tópico até mesmo de terapia. No período em que usava máscara, sentia falta de me arrumar, mas notei que queria me maquiar porque precisava me expressar. Quando eu me pinto, me reconheço”, desabafa.

Sobre o processo de aceitação, Ananda conta que, para ela, a idade pode ter tornado tudo mais leve. “Eu tinha 8 anos. Hoje, tenho 19. Tenho mais tempo de vida com as cicatrizes do que sem elas. Elas fazem parte de mim e, mais do que isso, são quem eu sou. Não quero sempre remeter isso a uma tragédia, uma situação triste, por mais que seja inevitável.”

O amor pelo mundo da beleza transcendeu quando Ananda começou a fazer vídeos no TikTok no começo de 2024. Mesmo que há pouco tempo, alguns conteúdos já ultrapassaram 200 mil visualizações e mais de 10 mil seguidores. “Na internet, evito contar a minha história. Quero conquistar as pessoas por quem eu sou. Eventualmente, vou falar com mais detalhes. Não ligo muito para as perguntas, mas algumas pessoas não são apenas curiosas, elas fazem e falam coisas chatas. Tenho vontade de brigar, de responder, mas me contenho.”

Agora, Ananda luta por mais representatividade nesse universo. “Representatividade é algo que falta muito. Poucas vezes me vi nas pessoas e nas coisas. Gosto muito de filmes de animação, e sempre me identifiquei mais com os desenhos do que com pessoas reais, o que não faz muito sentido. Além disso, falta entender que se maquiar não é apenas para você ficar bonito, é para se divertir”, finaliza.