A estreia de Virgil Abloh como diretor criativo do menswear da Louis Vuitton reafirmou de uma vez por todas a influência do criador no mundo da moda. Vindo da engenharia e da arquitetura, ele desenvolveu sua linguagem principalmente por meio da Off-White, marca que conquistou tanto o público do streetwear quanto do universo do luxo. Nas passarelas de uma das marcas mais emblemáticas da história da moda, o criativo de 37 anos compartilhou com o público um pouco de seu modus operandi: não que seus fãs não fossem compreender suas referências, mas foi necessário construir essa coleção como quem apresenta um novo léxico para quem acompanhou a marca até aqui. Tudo parte de um contexto que vê uma mudança radical no desejo de quem consome moda.
As novas bolsas da Louis Vuitton
“O maior objetivo de uma primeira coleção em qualquer cenário é começar algo porque assim as pessoas podem entender o novo vocabulário”, escreveu ele no Instagram antes do desfile. O convite para o show era um dicionário ou “uma definição liberal de termos e explicação de ideias”, como apresentou. E a primeira letra do alfabeto foi definida com um termo que representa a base da Louis Vuitton: “accessomorphosis”. De acordo com ele, essa é a descrição da transformação de um acessório em peça de vestimenta. A capacidade de uma bolsa ou um colete de definirem uma ideia.
Nomeada Colour Theory e composta por 56 looks diferentes, é claro que as bolsas não ficariam em segundo plano nesta coleção, uma vez que elas estavam nas mãos de um criador que foi expert em recriar o léxico do que é moda e estilo dentro e fora de suas parcerias — é só lembrar da recente criação para a Rimowa, uma mala de rodinhas transparente, que convida o consumidor a ter participação ativa na concepção do resultado.
Bolsas com shapes icônicos, como a Keepall, a Runner ou a Petit-Malle (uma versão maior dos grandes baús que construíram a fama da label ao longo da história) ganharam cores e tecidos novos: vermelho, verde e até mesmo o plástico, marca registrada de Virgil, ganhou tonalidade nova, a iridescente. As tradicionais peças de couro com monogramas e as bolsas de mão também ganharam correntes de cerâmica que iam do preto às cores do arco-íris e que, dependendo do look, se transformavam em braceletes e colares.
Cintos e peças utilitárias vestiam a cintura e o tórax dos modelos, lembrando os acessórios carregados por policiais americanos e delineando a forte crítica que acompanha os coletes reforçados que apareceram na passarela. A origem estadunidense de Virgil, e seu foco em discutir a diversidade e inclusividade foram muito além da decisão de trazer estudantes para a plateia e fazer um casting compromissado com a verdade. Na letra Z de seu dicionário, a definição era a seguinte: “se você chegou até aqui, obrigada por seu tempo.” Nada passou despercebido por Virgil.