Moda

Curta o curto: como o retorno da minissaia traduz a recente onda feminista

No colégio em que estudei na adolescência, a regra era clara: ser pega com a saia acima do joelho significava uma longa suspensão. Desde dobrar o cós até grampear a barra, nós alunas tínhamos as mais diferentes técnicas para roubar alguns centímetros de bainha sem sermos percebidas. Aos 15 anos e numa escola ultrarrígida de tradição britânica, encurtar a saia era nossa expressão da caricata rebeldia adolescente.

Talvez seja por isso que, para mim, nenhuma peça do guarda-roupa traga esse espírito de desobediência (mesmo que inocente) tanto quanto a minissaia. Popularizada nos anos 60 por Mary Quant e uniforme das meninas da Paris de maio de 68 e da Swinging London, ela até hoje traz em suas costuras o senso de subversão otimista da época. E em 2019, a minissaia me parece a abreviação do caráter assertivo e insubordinado do girl power que paira no zeitgeist.

Não à toa, os minis e micros vêm ensaiando um retorno depois de um longo flerte da moda com os midis e longos. Marcas como Prada e Chloé apostaram nos curtos, e a fast-fashion inglesa Topshop reportou um aumento de 106% de procura pelo termo. É de minissaia que Margot Robbie, no papel da atriz Sharon Tate, estampa o cartaz de Era Uma Vez em Hollywood, filme de Tarantino que narra os assassinatos da Família Manson.

Muito mais do que apenas sensual, a minissaia hoje representa a escolha sartorial da mulher que vem tomando o controle sobre seu corpo e sua imagem, destacando-se das construções estéticas definidas pelo olhar masculino. É inegável: há algo inexplicavelmente desafiador em mostrar as pernas – e não apenas para uma ingênua adolescente.

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