Moda

Por que as mulheres usam salto alto?

Símbolo de imponência e sensualidade para muitos, o sapato foi usado primeiro por homens; depois, mulheres calçaram os saltos para se sentirem poderosas. Mas, será que ele não é só mais um elemento cultural a que estamos acostumadas?

Marilyn Monroe, Madonna, Beyoncé, Lady Gaga. As artistas estão sempre em cima de saltos altos de 7, 10, 14 — e, pasmem — 18 centímetros. Só que, na história da moda, não eram elas que calçavam esse tipo de sapato e, sim, eles: conta a história que, no século 10, os homens da corte persa os usavam para ganhar alguns centímetros de altura e, claro, de poder. A trajetória dos saltos ainda teve mais uma figura masculina como representante: eles entraram mesmo para o universo fashion quando caíram nas graças do rei Luis 14, no século 17, e se espalharam pelo mundo, já que ele era conhecido como o “rei do bom gosto” e precursor de tendências.

Em um momento social, as coisas mudaram e essa peça do vestuário, que faz a conexão entre corpo e chão, se tornou extremamente simbólica na vida da mulher contemporânea – não só das divas pop, mas também de mulheres que frequentam o ambiente corporativo e as noitadas.

Por trás dessa escolha de subir alguns centímetros do calçado, está algo mais abstrato: a identidade. Por que associamos estilos de sapatos a estilos de pessoas? Por que podemos receber olhares tortos se adentrarmos um ambiente corporativo usando chinelos?

As respostas estão na importância que damos ao que calçamos: mais do que uma escolha estética, há fatores como a anatomia e a “mágica” que envolve cada par. Essa tríade – identidade, anatomia e ”mágica”- foi o que categorizou a história do sapato, que foi objeto de uma exposição do museu do Fashion Institute of Technology, em Nova York, no ano passado.

As curadoras da mostra, Valerie Steele e Colleen Hill, levaram ao público um questionamento simples: “Como podemos acreditar inconscientemente que o par de sapatos certo mudará nossas vidas”?. A construção imagética que o salto alto tem em filmes, novelas e publicidades diz muito sobre isso.

Afinal, você já viu a Carrie Bradshaw (Sarah Jessica Parker), personagem protagonista da série “Sex and the City”,em um momento de poder sem usar os saltos altos?

E o conforto?
Além de desfilar com as amigas, Bradshaw também aparece correndo sobre os Jimmy Choos, Manolo Blahnik e Louboutins nas cenas. Mas, claramente, não é algo confortável. Aliás, é obviamente contraindicado correr de saltos, e, segundo a comunidade médica, usá-los com frequência também não é recomendado. Os saltos altos são um “estímulo agressivo” ao corpo.

“O uso excessivo e crônico desse perfil de calçado pode gerar repercussões negativas, como desequilíbrios musculares na musculatura do pé e tornozelo e também deformidades articulares nessa região, diz Alexandre Leme Godoy dos Santos, especialista em pés do Instituto de Ortopedia e Traumatologia (IOT) do Hospital das Clínicas (HCFM), em entrevista para a revista “Espaço aberto”, da USP. Com o uso, essas possíveis “deformidades articulares” podem impedir, inclusive, o movimento de quem o usa.

Por que ele é visto como sexy?
Tido como o sapato mais sexual que existe, o salto alto é ainda controverso. Além de ser símbolo fashion supremo do que é esperado de uma mulher moderna, ele também é o sapato mais associado ao sexo e ao fetiche que existe. É como dizem as curadoras da exposição: ao mesmo tempo que é o sapato mais “público” do mundo (presente em filmes, publicidades, outdoors etc), o salto é também o mais “íntimo”, por suscitar essa energia sexual – e essa dualidade diz muito sobre como o corpo feminino é tratado em nossa sociedade.

Uma breve história
Os primeiros saltos da história foram desenvolvidos, ironicamente, para os homens da realeza Pérsa, antigo Irã, no século 10. Porém, esses modelos nada pareciam com os saltos agulhas da atualidade, eram baixos e mais grossos. Bastante confortáveis, ao contrário das criações que temos atualmente para as mulheres.

Foi só no século 17 que ele se tornou um item de moda como vemos hoje. Tudo porque a corte francesa absorveu o hábito daquela nobreza. O auge da tendência aconteceu com o Rei Luís 14, conhecido por aumentar alguns centímetros de altura com os sapatos de salto por se sentir baixo. Pronto, foi a partir deste momento que ele caiu no gosto de boa parte das realezas de outros lugares.

Os saltos altos já exprimiam poder naquele período e, as mulheres, com necessidade de demonstrar autoridade e respeito nas cortes, também passaram a usá-los. Mas, segundo a curadora Valerie Steele em entrevista para o site Fast Company, publicação especializada em negócios com foco em inovação, “Os sapatos femininos tinham saltos mais altos e mais finos do que os dos homens”.

Pouco tempo depois, os homens abandonaram os saltos e o sapato tornou-se estritamente feminino e logo um símbolo sexual. No começo de 1800, o salto se popularizou entre as mulheres de várias classes sociais e no século 20 passou a existir em grande parte das sapateiras do público feminino. Até hoje, as mulheres continuam a optar pelo salto alto, apesar do leque de opções de calçado ter aumentando ao longo do século 21.

Por que será que ainda mantemos essa preferência? Afinal, homens usam sapatos cada vez mais confortáveis, inclusive em lugares corporativos. Não é raro vê-los andando na rua com terno e tênis, por exemplo.

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