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Robô personal stylist é mais uma promessa da inteligência artificial e aumenta laços entre moda e digital

Atire a primeira pedra quem nunca viveu um dilema semelhante ao cantarolado por Noel Rosa em um de seus maiores sucessos. “Meu terno já virou estopa/ E eu nem sei mais com que roupa/ Com que roupa que eu vou/ Pro samba que você me convidou.”

Reflexo da identidade individual e de códigos culturais, a escolha do look gera tantas dúvidas que, não à toa, existem serviços especializados no auxílio da tarefa, que, agora, entrou para o time das promessas da inteligência artificial generativa.

No ChatGPT

Com mais de 6,5 bilhões de visualizações no TikTok, o termo “fashion ChatGPT” é cada vez mais comum na rede. Nos vídeos, pessoas perguntam ao robô da OpenAI o que vestir em diversas ocasiões e, em seguida, mostram o visual criado com base nas respostas.

Inspirada pela música de Rosa, esta repórter questionou o robô sobre o que usar para ir a uma roda de samba. A ferramenta recomendou, então, que ela investisse num “estilo descontraído e festivo”. Como exemplo, mencionou vestidos, calças pantalona e macaquinhos.

Se um homem faz a mesma pergunta, o ChatGPT sugere peças como bermuda, camiseta polo e “chapéu estilo brasileiro” —o que, segundo ele, são chapéus de palha, fedora e de de aba larga.

Em todas as respostas, o robô reforçou que “o mais importante é se sentir confortável, confiante e pronto para aproveitar a festa”.

As sugestões levam em consideração uma série de informações disponíveis na internet, além das especificidades de quem está por trás da tela.

O ChatGPT, no entanto, não é a única inteligência artificial usada para consultoria de moda. Por ser um software exclusivamente textual, seu potencial de sanar dúvidas fashion é, na verdade, limitado.

Looks para além do texto

Mais promissores na tarefa, aplicativos como YesPlz e Lewk foram treinados por especialistas para fornecer imagens, deixando a experiência mais interativa.

Print da plataforma The Lewk, um robô personal stylist — Foto: Reprodução

“É para tornar a compra mais conveniente e fácil para mulheres ocupadas”, afirma Sheena Virmani, cofundadora da Lewk, que tem site no ar, mas só estará disponível para uso em algumas semanas.

“Muitas varejistas como H&M e Zara têm catálogos enormes. As pessoas não têm tempo para procurar um produto entre milhares. A curadoria é importante.”

Para promover referências estéticas, o robô gera um moodboard do estilo que, ao seu entendimento, engloba a personalidade do usuário.

A plataforma promete ainda filtrar opções do comércio online que atendam à demanda, a partir de dados fornecidos sobre a peça. Características como silhueta do corpo, tipo do tecido e cor da roupa contribuem para resultados mais precisos.

Print da plataforma Lewk, um robô personal stylist — Foto: Reprodução                                                                          Contratar um personal stylist [humano] pode custar cerca de 500 dólares canadenses [cerca de R$ 1800] por hora. Não é acessível para a mulher do dia a dia. Estamos tentando ser um meio intermediário”, afirma Virmani. “O acesso ao nosso bate-papo será de 10 dólares americanos por mês [R$ 47].”
YesPlz, que já está disponível para uso, é outra que faz a seleção de peças à venda em sites externos. A marca também atende a varejistas, etiquetando os produtos de forma mais buscável à clientela .
Os valores cobrados pela YesPlz podem custar entre 100 dólares (R$ 478) mensais a mais de 10 mil dólares (R$ 47,8 mil) por serviço —o que difere é o pacote de funções. O teste é gratuito.
Mesmo que possa parecer caro, o preço dessas ferramentas é inferior ao de vários personal stylists.
Print da plataforma YesPlz, um robô personal stylist — Foto: Reprodução

Consultoria em carne e osso

“A consultoria de estilo não é tangível para todo mundo. É muito cara, porque é um trabalho personalizado, custoso. A inteligência artificial pode ser uma alternativa para dar mais conhecimento a quem não tem acesso”, diz a consultora de imagem Gabriela Ganem.

Ela enfatiza, porém, que nenhum robô é capaz de cumprir a função de um especialista de carne e osso. “Muito do nosso trabalho é decifrar coisas que o cliente não enxergou. Se a pessoa é quem direciona [as sugestões das plataformas], com certeza terá muita zona cinzenta.”

“Não acredito que um robô tenha a precisão necessária para chamá-lo de consultor. A consultoria é personalizada. De humano para humano.”

Mas não é o que pensa Olivia Merquior, fundadora da primeira semana de moda imersiva do Brasil.

Criatividade vs. padronização

“Existe essa ideia de que aquilo que se faz com humano nunca vai ser substituído. Mas a gente não se pergunta se não estamos entrando num padrão de criatividade”, afirma a especialista em moda digital. “Tudo que é padronizável vai ser automatizado.”

“Talvez, as pessoas não queiram o novo. Às vezes, querem só vestir o que está todo mundo usando.” Nesses casos, Merquior diz que ferramentas digitais cumprem bem a tarefa.

Já para quem deseja uma consultoria mais individualizada, ela recomenda que recorra aos seres humanos, mas faz uma ponderação: “grande parte dos profissionais trabalha apenas replicando padrões.”

A especialista afirma ainda que, embora caminhem em direções diferentes, a inteligência artificial não é inimiga da criatividde. Pelo contrário. Cada vez mais estilistas incluem softwares no processo criativo.

Sem dúvidas, o namoro entre a moda e o universo digital ainda vai render muito pano, ou pixels, para manga.

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