Moda

Seja bem-vindo à era da antiestética e da busca por uma imagem mais crua nas redes

Cada vez mais a plasticidade e estetização excessiva têm perdido espaço para uma imagem "nua e crua" e mais verdadeira

Seja bem vindo à era do fim do aesthetics. Nos últimos dois anos, a internet foi inundada por diferentes estilos, microtendências e estéticas, os chamados core’s e aesthetics. Recentemente, rolando pelo TikTok, tenho visto cada vez mais vídeos e desabafos de usuários da plataforma sobre a exaustão desse modelo – alguns vão até mais longe e dizem que seguir essas ditas aesthetics seria um sinal de falta de personalidade e estilo pessoal. Enquanto isso pode ser um exagero, afinal, tendências sempre fizeram parte dos movimentos comportamentais, seja na moda ou na beleza, os sinais da decadência da “era da aesthetic” estão aí.

Enquanto a estética super plástica e irreal da clean girl dominou os últimos meses, recentemente vimos o surgimento da messy girl e da mob wife. No primeiro caso, ser uma clean girl dizia muito sobre uma vida extremamente estetizada, mas que parecesse sem esforço, ao estilo “make-nada”. Já a messy girl e a mob wife, enquanto ainda se enquadram nos core’s e nas aesthetics, vão justamente na linha oposta de um visual plástico e higienizado para uma visão mais natural. A messy girl vira as noites na balada, usa lápis de olho borrado e às vezes está de ressaca e pula o dia de malhação – e tudo bem.

Se pensar bem, projetar uma estética nas redes sociais é, por si só, quase antropofágico: como realizar uma colagem de referências de diferentes outras pessoas para criar a sua própria imagem.

Mas quando todos estão tentando manter uma persona e uma estética online, movimentados por algum tipo de microtendência, qual a graça? Quando tudo é extremamente estetizado, a estética ainda nos atrai? É isso que muitos jovens têm questionado no Tiktok. Em um dos meus favoritos, uma criadora de conteúdo da plataforma diz: “Vocês são todos iguais! Tipo, se você tem 16 anos, tudo bem, brinque com seu estilo e se encontre. Mas se você já passou dos 25 e ainda está se vestindo de acordo com o Tiktok, arrume uma personalidade!”.

É que essa história de ter redes sociais aesthetic o tempo todo começa como uma tentativa de se mostrar cool, mas rapidamente se torna algo genérico e as pessoas ficam muito mais interessantes quando não estão tão visivelmente preocupadas com isso. Talvez estejamos entrando na era do anti-estético ou do fim das aesthetics e vou te explicar o porquê.

Eu adoro o trabalho do fotógrafo Juergen Teller. Sempre que há uma nova foto viral de Teller, ela divide opiniões. Seja a nova campanha do fotógrafo para Marc Jacobs, com a cantora (e dançarina bastante familiarizada com o pole dance) FKA Twigs agarrada em um poste em uma rua que poderia-ser-qualquer-rua ou Natalie Portman em uma loja “genérica” de souvenirs. Suas fotos são conhecidas por parecem cruas, com o mínimo de tratamento e sem muita iluminação, o que muitas pessoas caracterizam como, simplesmente, feio. Eu prefiro chamar de anti-estéticas, já que existe intenção ali. Tem algo de extremamente mágico, curioso e humanizante em ver celebridades A-List em cenários “comuns” e pouco editados. De repente, você poderia sim esbarrar com Margot Robbie na 25 de março.

No final do último ano, A$AP Rocky e Kendall Jenner foram vistos em inúmeras “fotos de paparazzi” com looks não lançados da Bottega Veneta. Pouco tempo depois, a ação foi revelada como parte da campanha de lançamento da coleção de resort 2024 da etiqueta. Para uma marca que sequer tem redes sociais, apostar na não-plasticidade das fotos de paparazzi faz muito sentido. Quem também apostou no formato recentemente foi a GCDS, para sua campanha de verão 2024. Um pouco mais ousada, uma das fotos mostra uma modelo, em uma estética tipicamente clean girl, carregando um pacote de comida para viagem e jogando fora seu matcha – não tem como ser muito mais claro que isso, né? Ora, até Jacquemus, o “rei do Instagram”, tem apostado em uma imagem menos estetizada e “instagramável” nas redes sociais e em seu desfile mais recente.

Quem também tem surfado na onda da estética “paparazzi” são as influencers, principalmente as mais conectadas com a Geração Z – que ao mesmo tempo que é a mais “afetada” pelos cores, também é a primeira a buscar por essa anti-estética e uma aproximação maior com seus ídolos. Já reparou que influenciadoras como Malu Borges, Livia e Lelê Burnier preferem a estética mais “crua” das fotos e vídeos de celular? Não é só sobre praticidade. Indo um pouco mais longe, algumas influenciadoras têm apostado em um formato de vídeo de “paparazzi”, com câmeras distantes e gravadas com zoom, com carinha de “flagra”.

Como não mencionar também Pamela Anderson, que voltou a ganhar os holofotes por sair de “cara limpa”, sem nenhuma maquiagem? Até Kim Kardashian (que já foi a rainha do contorno) recentemente falou sobre aparecer sem maquiagem nos Tiktoks da filha, North West, e como sua relação com a beleza tem mudado. Podemos ver sinais dessa corrente anti-estética até na música: já percebeu como as capas de singles, álbuns e editoriais de artistas enormes como, por exemplo, Dua Lipa e Ariana Grande, têm ficado com uma aparência cada vez mais “caseira” e sem esforço?

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