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Calma, inspira: testamos a primeira academia de respiração do mundo

Entonar o mantra que dá nome a esta matéria não é algo incomum de se ver por aí – também, pudera, em tempos pautados por transtornos de ansiedade, o contrário seria estranho. Ainda assim, nos falta tempo, paciência e foco para que a máxima seja, de fato, concretizada. Nossa capacidade de respirar corretamente, como fazem os bebês, com o diafragma expandido, se perde à medida que nos tornamos adultos. E é justamente otimizar a inspiração e a expiração que pode trazer de volta o equilíbrio físico e mental perdido. Essa é a premissa do trabalho de Stuart Sandeman, fundador da Breathpod, academia com foco em respiração que tem duas unidades em Londres.

Lá são ensinadas técnicas que misturam respiração profunda, música, acupressão e movimentos ritmados de inspiração e expiração. A superventilação (quando entra mais ar do que sai) altera o PH (potencial de hidrogênio) do corpo e normaliza o organismo. Assim, cria-se também uma frequência vibracional alta que promete elevar e transformar rapidamente qualquer energia de baixa vibração, como raiva, medo e culpa. Parece complicado no começo, mas depois faz sentido.

Na prática
Quando cheguei ao Hotel Ace, em Shoreditch, bairro de pessoas descoladas, para uma sessão em grupo, disse para Stuart que estava me sentindo um pouco insegura. Calmo, ele sorriu e me disse para não ter medo: “Você já faz isso todos os dias desde que nasceu”.

Aliviada, escolhi meu lugar em um dos cantos da sala repleta de colchonetes, travesseiros e cobertores. Éramos cerca de 20 pessoas sentadas de frente para as paredes de vidro no ensolarado rooftop do hotel. Antes de começar, Stuart pediu para conversarmos com a pessoa ao nosso lado e quebrar o gelo.

A inglesa próxima a mim estava lá pela terceira vez e se dizia empolgadíssima – o que era bom sinal.

Stuart, então, nos contou sua história: praticou judô durante muitos anos, trabalhava no mercado financeiro e, por isso, vivia estressado, foi DJ e, com a morte de sua namorada, que tinha câncer, entrou em depressão. Foi aí que encontrou na respiração transformacional sua cura e missão de vida. Anos depois, fundou a Breathpod para atender pessoas e grupos, inclusive corporativos – ele já esteve em empresas de peso, como Nike, Google, Heineken, Calvin Klein e Tommy Hilfiger. Além de Stuart, estavam na sala dois assistentes, chamados de facilitadores.

A sessão de duas horas começa com exercícios de aquecimento nas pernas, braços e pescoço, com todos sentados e de olhos fechados. Ele pede para repararmos em como respiramos. Estava tão preocupada em me concentrar que não conseguia responder.

Talvez venha do peito, típico de pessoas ansiosas. “Quem tem dificuldade de meditar não precisa se preocupar. A vantagem desta técnica é que ela nos mantém ocupados com os movimentos”, disse ele.

A música que tocava, um eletrônico calmo com batidas ritmadas, me deixou mais serena. Stuart pediu para nos deitarmos com os pés apoiados no chão e respirarmos pela boca. Senti um pouco de dificuldade, e, sem que eu percebesse, alguém colocou entre meus dentes um aparelho utilizado para relaxar o maxilar que facilitou o processo.

Meus pés, mãos e rosto começaram a formigar, mas não me incomodei (geralmente essa sensação me dá certo pânico). Senti calor no corpo todo, inclusive nos pés, que quase sempre estão gelados. Meus dedos indicadores começaram a ficar rígidos.

Me senti emocionada quando começou a batida latina de uma música e lembrei com saudades do Brasil. Senti vontade de chorar e não controlei, mas, em seguida, comecei a gargalhar involuntariamente. Então, o instrutor disse para batermos as palmas das mãos e os pés no chão com força, gritando. Por estar em um grupo em que ninguém se intimidou, consegui fazê-lo – nessa hora, os facilitadores passam entre nós com chocalhos, aromas de lavanda e palos santos.

Voltamos a respirar. Passei a maior parte do tempo em um estado de consciência diferente. Repetimos o movimento de bater com pés e mãos algumas vezes, e respirar no ritmo ditado por eles se torna automático. Senti a garganta seca e tirei o aparelho da boca no mesmo momento que um dos facilitadores perguntou como eu me sentia. Disse que estava com dor no maxilar e, havia meses, no ombro. Ele pressionou um ponto na minha cabeça com força que me fez sentir bastante dor. Como se fosse uma chave, algo destravou dentro de mim e senti meu corpo formigar. A sensação foi leve e boa.

Ao final da sessão, Stuart colocou uma música de relaxamento e nos guiou de volta aos nossos estados normais. Me senti grata. Ele pediu para compartilharmos nossas experiências, mas só um homem falou. Tomei coragem, levantei a mão e disse que não conseguia parar de chorar, coisa rara de acontecer, e completei alegando que talvez estivesse com saudades de casa. Me senti meio ridícula, mas Nova, facilitadora e braço direito de Stuart, me disse: “A maioria das pessoas choram porque liberam energias e emoções reprimidas. É normal”.

Saí de lá meio chapada, mas me sentindo presente, alerta e com os pés no chão. Notei que até meus olhos estavam mais abertos. No dia seguinte, senti mais sede do que o normal e algumas dores no corpo, porém com energia renovada para encarar o ano inteiro. Minha vontade foi e é de ligar para todos os amigos e dizer: vai respirar!

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