Moda

Estilista Flavia Aranha destaca-se com roupas em tingimento natural e técnicas sustentáveis

Um aroma amadeirado se espalha pelo ensolarado galpão onde funciona o ateliê da grife Flavia Aranha, na zona oeste de São Paulo. “É cheiro de pau-brasil e crajiru”, diz a estilista, abrindo as panelas dentro das quais fervem os tecidos de algodão orgânico que vão ganhar as cores das duas plantas que perfumam o ambiente. Em alguns deles, o método fica impregnado, como no macacão com aplicação de fragmentos de araucária. Essas características tornaram Flavia, de 35 anos, uma estilista cobiçada aqui e no exterior. Suas peças amplas e delicadas caíram no gosto das francesas, por exemplo, que frequentam sua única loja, na Vila Madalena, ou na recente filial em Lisboa, dentro da multimarcas Casa Pau Brasil – um segundo ponto será inaugurado em Cascais, também em Portugal.

Esse modus operandi conectado com o cenário do slow fashion e da sustentabilidade – e aprovado pelo Sistema B, movimento global que certifica empresas que criam produtos e serviços voltados a resolver questões socioambientais – surgiu de uma insatisfação com a indústria da moda. Nascida em Campinas, no interior paulista, Flavia é apaixonada por costura, hábito que herdou das avós. “Aos 12 anos, entrei num curso de corte e costura”, diz ela, que aos 17, após uma temporada na prestigiada Central St. Martins, em Londres, se mudou para a capital paulista para estudar moda. Trabalhou com Karlla Girotto antes de cair nas graças de Adriana Bozon, da Ellus, onde ascendeu rapidamente e descobriu o tino para o empreendedorismo.

Na marca, foi convocada a fazer uma viagem de 40 dias pela China e Índia, onde se deparou com o lado macabro da indústria. “Vi de tudo, desde crianças trabalhando a mulheres bordando no chão de terra batida, perto do esgoto. Voltei chocada”, descreve. Foi nessa mesma aventura, porém, que ela encontrou o que viria a se tornar sua marca registrada: o tingimento natural. Na volta, Flavia pediu demissão e passou a criar peças diáfanas e fluídas, coloridas em chás de camomila, capim-limão, carqueja, que vendia em sua primeira loja, numa vila no mesmo quarteirão onde está hoje sua boutique. Desde então, a estilista viaja pelo país para descobrir novas técnicas, que agora também se tornarão tema de intercâmbios em seu recém-lançado Instituto Teia. “O Brasil não investe em sua mão de obra, que é muito potente, criativa e ligada à nova diversidade”, acredita. No que depender de Flavia, esse cenário será outro muito em breve.

  • Fonte da informação:
  • Leia na fonte original da informação
  • Artigos relacionados

    Deixe um comentário

    Botão Voltar ao topo