Herbalismo nada mais é que o estudo das plantas para fins medicinais. Para Monaliza Soares, mais conhecida como Mona, se identificar assim é uma forma de reafirmar sua identidade e raízes, tanto que um de seus produtos favoritos é feito da babosa do quintal dos seus tios. Ela criou não é só uma empresa Ewé, mas uma forma de criar e compartilhar conhecimento – e assim como muitos empreendedores negros, não começou por almejar ser dona do próprio negócio, mas da necessidade após uma demissão e não inclusão num processo de mestrado.
Hoje a empresa cresceu: já são três livros e três cursos que ela leciona para interessados em seus conhecimentos. Seu desejo em conhecer quintais, quilombos e terreiros e estar sempre com ouvidos atentos para o que os mais velhos têm a dizer, somados a sua aplicação em empreendedorismo, fazem de Mona um exemplo em várias facetas de empreendedorismo. Por isso ela é minha entrevistada na série #NegrasEmpreendedoras:
Como você se capacitou para se tornar uma herbalista?
Me auto intitular herbalista foi a forma que encontrei de agregar diversas atividades que realizo. Apesar da minha formação em farmácia pela UFBA, passei muito tempo estudando sobre plantas fora do ambiente acadêmico e, por isso, queria um “título” não acadêmico, que fosse condizente com meus estudos de forma autodidata, através de cursos livres, projetos ligados a terreiros de candomblé, conversas com mulheres mais velhas e raizeiras e andanças por quilombos e quintais.
Em qual momento você resolveu se tornar empreendedora e criar a Ewé?
Não foi exatamente uma escolha, mas uma falta de escolha. Em 2013 eu trabalhava em uma farmácia comercial e não era feliz. Paralelamente, me preparava para a seleção do mestrado onde queria pesquisar o uso de plantas em uma comunidade quilombola. Acontece que fui demitida e pouco tempo depois perdi na última etapa da seleção do mestrado. Foi nesse momento difícil que o empreendedorismo surgiu como possibilidade e hoje agradeço as “coisas ruins” que abriram caminho para que eu pudesse empreender.
Quais são seus principais produtos da Ewé? O método que você usa leva algum tipo de conservante químico?
Os produtos são feitos com matéria-prima na maior parte das vezes orgânica e oriunda de pequenos produtores. Em algumas formulações se faz necessário o uso de ingredientes sintéticos, mas escolho aqueles com baixo grau de toxicidade e baixo risco ambiental, seguindo o que orientam as certificadoras de cosméticos naturais.
Do início da Ewé pra cá aconteceram muitas mudanças. Comecei com a venda de cosméticos naturais em um comércio eletrônico e depois passei a dar cursos de saboaria e cosméticos. Chegou um momento que ficou inviável tocar as duas atividades. Atualmente comercializo os produtos apenas na Botica RHOL, que fica no Pelourinho (Salvador-BA), e faz parte de uma rede de hortos de plantas medicinais e litúrgicas de terreiros de candomblé. O meu foco atual se direcionou para cursos – virtuais e presenciais – palestras, consultorias e produção de conteúdo no blog. Adoro ensinar e possibilitar pessoas a fazerem seus próprios cosméticos.
Se pudesse escolher um produto para representar a identidade de todo seu trabalho na Ewé, qual seria?
Fazer cosméticos foi um jeito que encontrei de contar histórias. Cada produto que desenvolvi tem uma conexão forte comigo e com os meus valores. Porém, há dois produtos que dizem muito sobre minha ancestralidade: o creme de abacate e aloe vera e o creme de mel e dendê. O primeiro é feito com babosa do quintal de meus tios, que trouxeram as mudas da Fazenda Encantada, onde viveram meus bisavós maternos, no sertão baiano. O segundo é feito com dendê artesanal do recôncavo baiano, onde meu pai nasceu – além de dizer muito sobre minha ancestralidade africana.
Por qual motivo as pessoas deveriam investir na cosmética natural?
Usar cosméticos naturais vai além de cuidar superficialmente da aparência. É uma forma de se conectar com a natureza. Quando comecei a usar e a produzir cosméticos naturais, passei a me cuidar mais, a me amar mais e a reservar um tempo pra mim. Acho que é essa a mensagem que a cosmética natural quer levar às pessoas: auto-aceitação, auto-cuidado e conexão.
Para finalizar, como que se tornar empreendedor te emancipou?
Me sinto plenamente realizada por empreender, me sinto livre. Sempre tive dificuldade em me adaptar a rotinas muito engessadas, horários preestabelecidos. O empreendedorismo me dá flexibilidade. Além disso, poder levar o que acredito para as pessoas é muito recompensador. Me sinto energizada por cada mensagem de carinho que recebo, quando alguém me diz o quanto meu trabalho transformou positivamente sua vida. É o meu maior patrimônio, a minha riqueza.