Beleza

Por que a escolha de manter os pelos não deveria ser vista como falta de higiene

Credo, que nojo dessas axilas. Imagina o mal cheiro”.

“Cúmulo do ridículo e da total falta de higiene e bom senso”.

“A atriz é linda, cada um faz o que quiser com o corpo, mas que eu acho nojenta essa axila cabeluda, eu acho”.

Todas as frases acima foram retiradas dos comentários da foto da capa deste mês de Marie Claire postada no Instagram no dia 31 de dezembro de 2018. O que elas têm em comum (além de terem sido proferidas por pessoas que acreditam ter o direito de dizer o que quiserem sobre o corpo alheio) é uma percepção errada sobre pelos: de que a sua não depilação, especialmente feminina, seja consequência de falta de higiene. A médica e escritora Luisa Dillner afirma, em um artigo publicado no jornal britânico The Guardian, que “essa associação vem de uma prática comum nos anos 70, quando a remoção de todos os pelos fazia com que a proliferação de piolhos fosse menos provável” – um problema quase inexistente na atualidade.

Além de não oferecerem perigo algum para a higiene corporal, os pelos não surgiram em nossos corpos aleatoreamente. “Eles têm algumas funções, como evitar infecções por vírus e bactérias; manter os órgãos genitais a uma temperatura adequada; prevenir a irritação da área genital, entre outras”, explica a Dra. Katleen, dermatologista pela Sociedade Brasileira de Dermatologia e referência em dermatologia para pele negra. “O odor e suor são naturais, assim como em pessoas que se depilam, e as recomendações de higiene para evitá-los são as mesmas para qualquer pessoa: banho diário e o uso de desodorantes e antitranspirantes da preferência de cada um”, completa Adriana Leite, dermatologista fundadora do portal Cosm-éticos.com.br e da clínica Adriana Leite All Beauty Co. “A única recomendação extra é secar bem os pelos para evitar a proliferação de fungos – o mesmo que poderia acontecer no couro cabeludo, por exemplo. Sugiro aos meus pacientes que sequem com secador em temperatura fria ou morna”,diz.

Mas, de onde vem a depilação?
Os primeiros registros são do Egito Antigo – há relatos de que a rainha Cleópatra usava tiras de tecido ou pele de animal banhadas em cera de abelha para remover os seus pelos. Na mesmo época, na Grécia, um instrumento chamado estrígil (uma vara de aproximadamente 30 centímetros) era usada para depilar os homens atletas com a intenção de torná-los mais velozes.

De acordo com a historiadora Mary Del Priore, autora de Histórias Íntimas: Sexualidade e Erotismo na História do Brasil, durante muito tempo os pelos foram tidos como símbolo máximo de feminilidade, principalmente os da axila. Isso porque eles permitiam que os homens vislumbrassem a coloração da região pubiana das mulheres antes de terem acesso à ela.

Tudo mudou com a inserção da mulher no mercado de trabalho. Os pelos, algo que era tão erotizado, ficavam mais aparentes graças aos movimentos realizados com os braços nas fábricas. A sua remoção começou a ser aconselhada às “moças de família” – primeiro nos Estados Unidos e, depois, quase no mundo todo. A partir daí, a depilação virou algo imposto, mas, claro, sempre apenas às mulheres. “O questionamento do movimento feminista acerca dos pelos dos corpos femininos é muito importante porque visa, acima de qualquer coisa, acabar com uma imposição social”, afirma Adriana. Aliás, o incômodo que as pessoas sentem ao ver os pelos de uma mulher expostos nada tem a ver com falta de higiene ou preferência estética, mas, totalmente com uma imposição social. Que seja continuado, portanto, o começo do seu fim.

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